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A Mulher da Década de 20 do Século XXI

Quem é a mulher da década de 20, que se inicia, neste século XXI? Essa pergunta tem passeado pelas minhas ideias e fico a pensar, quem é essa mulher? Eu me reconheço nela? Ela carrega que histórias? Ela pensa no futuro? O que ela vai se tornar nessa sociedade disruptiva em que vivemos? O que será que está por vir?

Quem é a mulher da década de 20, que se inicia, neste século XXI? 

Dentre meus pensamentos analiso o presente que vivo, na realidade que vivencio, nas histórias que ouço das minhas amigas, dos meus clientes, porque quem faz Direito de Família escuta muitas histórias tristes, histórias marcadas por dores e com sonhos interrompidos, histórias de recomeços. Meu lugar de fala, como aprendi lendo Djamila Ribeiro, é de uma mulher de meia idade, prefiro meio século, branca, cis, hetero, casada, com filhos do primeiro casamento, advogada e cristã metodista, mas carrego em mim muitas dores, não mais doloridas, mas marcas que me fizeram o que sou hoje. E com esse olhar eu ouço histórias de dores de todos os tamanhos, desde as dores das crianças até dos idosos, que são muito diferentes e ricamente importantes.

 E com esse olhar eu ouço histórias de dores de todos os tamanhos, desde as dores das crianças até dos idosos, que são muito diferentes e ricamente importantes. 

Dito de onde vem o meu olhar e o meu pensamento, fico a observar a mulher da década de 20 do século XXI, ela normalmente está cheia de afazeres de todos os tipos, tipo um polvo, como já narrou Içami Tiba, ela faz mil coisas ao mesmo tempo, mas a principal característica para mim é que está sempre cuidado de algo ou de alguém, pouco de si. Ela trabalha, estuda, sendo profissional, dona de casa, mãe, parceira de alguém, servindo nas obras, tudo junto ou algumas desses trabalhos. Alguns ela considera por vezes até muito divertido, por vezes muito pesado e suas costas arqueiam, não precisa falar, é visível, está sobrecarregada, e como disse Ruth Manus, a mulher não é chata, ela está exausta, está carregando o mundo nas costas.

Alguns ela considera por vezes até muito divertido, por vezes muito pesado e suas costas arqueiam, não precisa falar, é visível, está sobrecarregada, e como disse Ruth Manus, a mulher não é chata, ela está exausta, está carregando o mundo nas costas. 

De onde vem tudo isso? De um passado, da história da humanidade em que as mulheres estavam a cuidar das pessoas, mas passaram a prover também, e não tem compartilhado tanto as responsabilidades de cuidar e acabam sobrecarregadas. Se pensarmos nas mulheres da década de 20 do século passado, do século XX, a mulher estava em plena luta por um espaço na sociedade, estava buscando votar, ter voz, pela ação, ainda que pouca, vemos alguns avanços há meio século. E com isso sou privilegiada, porque nasci no meio dessa transformação toda, talvez por isso eu seja uma pessoa que se modifica com o tempo, que se adapta às nossas situações da vida e gostaria de mais mulheres pensassem assim. Nesse passado, encontram-se os caminhos de nossas mãe, avós e bisavós que muito sofreram e enfrentaram a vida com as habilidades que tinham, podemos aprender muito com o passado, que se ainda faz muito vivo com nossas mulheres idosas, podemos procurar saber um pouco de suas histórias e talvez encontremos nosso caminho.

... podemos aprender muito com o passado, que se ainda faz muito vivo com nossas mulheres idosas, podemos procurar saber um pouco de suas histórias e talvez encontremos nosso caminho. 

Diz-se que a pessoa inteligente aprende com os seus erros e o sábio aprende com o erro dos outros, baseado num provérbio chinês. Mário Sérgio Cortella fala que “nós aprendemos com as correções dos erros, se nós aprendêssemos com os erros o melhor método pedagógico seria ir errando bastante”. Para a nossa realidade cristã, podemos aprender com as histórias dos inúmeros personagens bíblicos, e, sobretudo, com o olhar do amor que Jesus nos ensinou. Podemos ser melhores a cada dia se analisar o que vivemos, o que nossos queridos vivem ao nosso redor, e não apenas passar pela vida, podemos fazer mais, cada qual na sua possibilidade e na medida de sua idade e experiência, fazendo o nosso melhor com o que dispomos.

Podemos ser melhores a cada dia se analisar o que vivemos, o que nossos queridos vivem ao nosso redor, e não apenas passar pela vida, podemos fazer mais, cada qual na sua possibilidade e na medida de sua idade e experiência, fazendo o nosso melhor com o que dispomos 

Essa mulher de hoje, eu me vejo nela em vários aspectos, como a bravura para desempenhar novas tarefas, mas também vejo com olhos de tristeza por tantas mulheres ainda subjugadas, vítimas de violência doméstica. Mais de 77% das agressões são infringidas por cônjuge, parente ou conhecido, conforme pesquisa do IPEA de 2019 sobre a participação no mercado de trabalho e violência doméstica contra as mulheres no Brasil. Isso é inaceitável. Temos leis protetivas, temos Patrulha Maria da Penha, temos uma rede de atendimento e de proteção à mulher vítima de violência, precisamos conhecer, divulgar, fortalecer essa mulher, não julgar, acolher, quebrar esse ciclo da violência e transformar nossas histórias e bendizer as histórias de tantas e tantas mulheres, que fizeram por nós no passado e abriram o caminho para nós.

Temos leis protetivas, temos Patrulha Maria da Penha, temos uma rede de atendimento e de proteção à mulher vítima de violência, precisamos conhecer, divulgar, fortalecer essa mulher, não julgar, acolher, quebrar esse ciclo da violência e transformar nossas histórias e bendizer as histórias de tantas e tantas mulheres, que fizeram por nós no passado e abriram o caminho para nós 

E, por fim, quanto ao futuro, especialmente nessa realidade disruptiva, que é uma mudança de paradigma, um rompimento da vida como ela era vivida no século passado para entrar numa era mais tecnológica, mais digital com todas as suas benesses e problemas que ainda nem sabemos quais são, como viver? Para mim, só tem uma forma, quando não souber o que fazer, pare, pense, ore, reflita, e siga pelo caminho do amor, da ética, dos princípios que nortearam sua história desde sempre, desde seus antepassados. E lembrando sempre que Jesus é lâmpada para nossos pés, sigamos juntas, sigamos na fé e na esperança, sigamos com ética e com respeito ao próximo.

 (Texto originalmente escrito para o Dia Internacional da Mulher de 2020, para o Boletim Mensageiro 815, ano XLII de 08 de março de 2020, p. 3)

Rosália Toledo Veiga Ometto é advogada, bacharel e mestre em Direito Civil pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco – USP, professora da Mocidade da Catedral Metodista de Piracicaba e representante da Sociedade Metodista de Mulheres da Catedral Metodista de Piracicaba na Rede de Atendimento e de Proteção às Mulheres de Piracicaba.

Autor

Rosalia Toledo Veiga Ometto

Data

08/03/2020

Advocacia como ferramenta de Percepção, Educação e Ação. Olhar no futuro, releitura do Direito com base na Ética.

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